quarta-feira, 24 de novembro de 2010

CAMISINHA:Igreja amplia aceitação ao uso do preservativo.

Mulher mostra camisinhas com a imagem do Papa Bento XVI
 e a inscrição 'Eu disse não'  em 25 de Março de 2009 em Paris.
 Elas foram feitas para criticar o pontífice, que criticava 
o uso da camisinha na prevenção da Aids durante
 sua visita à África. Agora tudo mudou. (Foto: AFP)
Roma. Usar preservativos é um mal menor que transmitir o vírus HIV para um parceiro sexual, mesmo que isso signifique que uma mulher evitou uma possível gravidez, afirmou o Vaticano ontem, sinalizando uma grande mudança no ensinamento papal, como foi explicitado em comentários do papa Bento XVI no fim de semana passado.
Segundo a Igreja, a declaração histórica do pontífice reconhecendo que o uso de camisinhas é moralmente justificável em alguns casos para prevenir a Aids vale não apenas para garotos de programa homossexuais, mas também para heterossexuais e transexuais.
Orientação
"A mensagem é que é preciso evitar colocar em risco a vida do outro, um ato de responsabilidade"
Federico LombardiPorta-voz do Vaticano

O esclarecimento, o mais recente passo em direção ao que já está sendo visto como uma mudança significativa na política da Igreja Católica, foi feito durante uma entrevista coletiva para divulgar o novo livro do papa: "Light of the World: The Pope, the Church and the Signs of the Times" ("Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos").
No livro, uma longa entrevista com o jornalista católico alemão Peter Seewald, o papa usou o exemplo de que um garoto de programa estaria justificado em usar uma camisinha para prevenir contra a transmissão da doença.
O comunicado foi necessário porque as versões em alemão, inglês e francês do livro usaram o artigo masculino ao se referir ao "garoto de programa", mas a versão italiana usou o artigo feminino ("prostituta").
O padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, afirmou que havia perguntado ao papa diretamente sobre isso para esclarecer seu pensamento. "Perguntei ao papa pessoalmente se havia uma distinção séria entre o uso do masculino ao invés do feminino e ele disse ´não´", relatou o religioso.
"Ou seja, a questão é que (o uso da camisinha) deveria ser o primeiro passo em direção à responsabilidade de se tornar ciente do risco à vida de outra pessoa com quem se está tendo uma relação. Se é um homem, uma mulher ou um transexual que faz isso, defendemos sempre o mesmo ponto, de que é o primeiro passo de responsabilidade para prevenir contra a transmissão de um grave risco ao outro. A mensagem é que é preciso evitar colocar em risco a vida do outro, um primeiro passo responsabilidade", acrescentou Lombardi.
A Igreja vem dizendo há décadas que camisinhas não fazem parte da solução no combate à Aids, apesar de não existir nenhuma política formal sobre o assunto no Vaticano. No livro, o papa diz que o uso de camisinhas deve ser visto como "o primeiro passo em direção à moralização", mesmo que "não seja a forma de lidar com o mal do HIV".
"Pela primeira vez o uso de camisinhas em circunstâncias especiais foi apoiado pelo Vaticano e isso é uma boa notícia e um bom começo para nós", declarou Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS).

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