Padre Talvacy Chaves é a favor do celibato opcional, mas afirma: “Hoje estou muito feliz sendo padre celibatário” Foto – Ednilto Neves |
Recentemente, um grupo
formado por 26 mulheres apaixonadas por padres enviou uma carta a Jorge Mario
Bergoglio, o Papa Francisco, pedindo que a Igreja deixe de proibir o casamento
de padres e que não impeça “um vínculo tão forte e bonito”. Depois disso, em
uma viagem de volta a Roma, ao ser questionado sobre o assunto, Francisco
afirmou, em entrevista realizada ainda dentro do avião, que “por não ser um
dogma da fé, a porta sempre está aberta…”
O que muita gente não sabe,
inclusive os fiéis, é que existe padres casados na Igreja Católica Romana, são
os sacerdotes do rito oriental, formado por 22 igrejas subordinadas ao
Vaticano, em que os ordenados são livres para o matrimônio. No Brasil, onde é seguido
o rito ocidental, adotado em toda a América Latina, Europa e África, existem
três Igrejas Católicas Orientais: Maronita, Greco-Melquita e Ucraniana.
O tema divide opiniões até
mesmo dentro da Igreja. O pároco Talvacy Chaves é a favor do celibato opcional,
ou seja, que cada um possa optar por casar-se ou não. Ele conta que nem sempre
os padres foram proibidos de se casarem. “Até o século II d.C., os padres,
bispos e até papas podiam se casar. Muita gente pensa que isso não existe, mas
até na bíblia apresenta”.
Uma das passagens bíblicas que
comprovam que bispos eram casados está na Carta de São Paulo a Timóteo, no Novo
Testamento. “Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma
mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar”, (1
Timóteo 3:2).
O assunto é polêmico, mas muito
tem sido falado dele após a ordenação do papa Francisco, em abril do ano
passado. Esse não é o único assunto que tem vindo à tona no atual papado. Os
escândalos sexuais, incluindo pedofilia, envolvendo membros do clero é uma
“chaga” para a Igreja Católica.
O pontífice não tem se negado a
falar sobre os assuntos polêmicos, mas as decisões não dependem apenas dele.
Francisco quer descentralizar e até afirmou, em uma encíclica, que não se deve
esperar do papa uma palavra absoluta sobre as questões da instituição.
Para os católicos, o papa é o
representante direto de São Pedro, considerado o primeiro Papa. Há indícios
bíblicos de que até mesmo ele tenha sido casado. “Ora, tendo Jesus entrado na
casa de Pedro, viu a sogra deste de cama; e com febre.” (Mateus 8:14).
Depois do homem que foi nomeado
pelo próprio Jesus Cristo como sendo o “pastor” e a “pedra” da instituição,
mais 266 homens, incluindo o atual sumo pontífice, já ficaram à frente da
Igreja Católica.
Trinta e nove papas foram
casados ao longo da história da Igreja, alguns chegaram, inclusive, a suceder
os pais. O papa Inocêncio I era filho de Anastácio I, primeiro caso de um filho
suceder o pai no pontificado. No século IV, por exemplo, os bispos Gregório de
Nazianzo e Gregório de Nissa eram casados.
Discussões como essas eram
antes realizadas longe dos olhos e ouvidos dos fiéis, no silêncio do Vaticano.
“Hoje o povo interage. Tem acesso à informação”, denota o padre.
Ele acredita que é importante que
a sociedade saiba o que acontece, e participe expondo opiniões. A internet e as
redes sociais têm contribuído muito para despertar um olhar crítico. Para padre
Talvacy, a democratização de temas polêmicos, principalmente através das redes
sociais, é visto como algo bom. No entanto, o padre afirma que ainda dentro da
Igreja existem pessoas que não têm abertura, “que continuam com a mente no
método medieval para tratar sobre temas do século XXI”.
O sacerdote cita o livro
“Liberar o Celibato”, do psicólogo, teólogo, ex-reitor e professor de
seminário, o norte-americano Donald Cozzens. Nele o autor trata do valor do
celibato como carisma e repudia a imposição institucional da Igreja ao
relacionar o tema.
http://gazetadooeste.com.br/
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