quinta-feira, 8 de maio de 2014

Violência precoce pode influenciar uso de drogas

violencia
A violência na infância e na juventude se manifesta de cinco formas: física, psicológica, negligência, abandono e abuso sexual. Entre as consequências que essa criança poderá apresentar, está o comportamento violento
Quais as marcas da violência? Conforme o 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, dois a cada dez brasileiros foram vítimas de violência física na infância ou adolescência (21,7%), representando mais de 30 milhões de pessoas. Em dois a dez casos, o agressor estava sob o efeito de álcool durante a agressão. Arranhar, beliscar ou empurrar estão entre as agressões mais comuns (12,4%), seguida de bater até causar marcas no corpo (11,9%). Chama a atenção que quase 1% dos entrevistados relatou ter sido vítima de um ataque com faca ou arma de fogo por seus pais ou cuidadores.

O uso de substâncias ilícitas por familiares, acrescenta o estudo, é outro fator de risco para o consumo e desenvolvimento de dependência química na vida adulta. Os dados mostram que pelo menos 8% dos brasileiros relataram possuir alguém próximo que consumia substâncias ilícitas dentro da sua residência, a maioria deles parentes próximos (3,7%).
Porém, entre todos os tipos de violência precoce, o abuso sexual é o que leva a consequências mais drásticas a longo prazo. O levantamento mostra que mais de 5% da população adulta já foi vítima de abuso sexual, representando 5,5 milhões de brasileiros. O principal alvo são as meninas (7%), enquanto os meninos representam 3,4% das vítimas, prevalência acima das estimativas de estudos anteriores, o que a pesquisa atribui ao fato das entrevistas terem sido realizadas de forma fechada e com sigilo absoluto.
Exploração sexual em crianças e adolescentes continua sendo um grave problema social. O levantamento identificou que mais de 1% dos entrevistados já recebeu dinheiro para fazer sexo antes dos 18 anos de idade, representando mais de um milhão de brasileiros. Porém, ao contrário do esperado, a prevalência da exploração sexual precoce entre meninos (1,6%) é maior do que entre as meninas (1%).
Impactos
Mas afinal, quais os impactos da violência no consumo de substância na vida adulta? De acordo com o estudo, essa violência pode levar a um aumento significativo da predisposição à depressão e, principalmente, ao uso de substância psicotrópicas na vida adulta. Isso porque as taxas de prevalência de consumo de substâncias entre as vítimas de violência precoce são significativamente superiores às da população geral. Observa-se que mais da metade dos usuários de cocaína e mais de um terço dos usuários de maconha foram vítimas de abuso infantil.
A pesquisa divulgada, ontem, pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ouviu 4.607 pessoas de 14 anos ou mais em 149 municípios. No Nordeste, 1.262 pessoas foram entrevistadas, sendo 216 no Ceará.
Já os dados do Disque 100, da Presidência da República - um dos instrumentos de denúncia mais difundidos no País -, recebeu, no ano passado, 6.109 denúncias de violência do Ceará, o que dá uma média de 17 denúncias registradas por dia. Elas envolvem 12.698 violações, uma vez que cada caso pode envolver mais de um tipo de violação.
Liderando o ranking, com 4.568 denúncias, está negligência familiar (36%), seguida de violência psicológica 3.201 (25%), violência física 2.867 (22,5%), violência sexual 1.363 (10,7%)e exploração do trabalho infantil 476 (3,7%).
Francielze Lavor, presidente da Sociedade Cearense de Pediatria, explica que a violência na infância e na juventude se manifesta de cinco formas: física, psicológica, negligência, abandono e abuso sexual. "Elas vão desde a família que negligencia o cuidado, como levar a criança à escola ou ao médico quando ela está doente, até casos extremos que constituem o abandono", frisa.
Entre as consequências que essa criança poderá apresentar, cita comportamento violento, dificuldades no aprendizado e de se sociabilizar. "Não é só a sequela psicológica, pode envolver um retardo no desenvolvimento psicomotor", diz a especialista.
Para dar suporte às crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade em Fortaleza, existem seis Conselhos Tutelares e mais seis Centros de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), sendo um para cada Secretaria Regional. O Diário do Nordeste entrou em contato com a Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos de Fortaleza (SCDH), através da assessoria de comunicação, mas até o fechamento da edição não recebeu retorno esclarecendo os canais de denúncia que o Município dispõe para casos de violência contra crianças e adolescentes.
Luana Lima
Repórter

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