A violência na infância e na juventude se manifesta de cinco formas: física, psicológica, negligência, abandono e abuso sexual. Entre as consequências que essa criança poderá apresentar, está o comportamento violento |
Quais as marcas da violência? Conforme o 2º Levantamento Nacional de
Álcool e Drogas, dois a cada dez brasileiros foram vítimas de violência
física na infância ou adolescência (21,7%), representando mais de 30
milhões de pessoas. Em dois a dez casos, o agressor estava sob o efeito
de álcool durante a agressão. Arranhar, beliscar ou empurrar estão entre
as agressões mais comuns (12,4%), seguida de bater até causar marcas no
corpo (11,9%). Chama a atenção que quase 1% dos entrevistados relatou
ter sido vítima de um ataque com faca ou arma de fogo por seus pais ou
cuidadores.
O uso de substâncias ilícitas por familiares, acrescenta o estudo, é
outro fator de risco para o consumo e desenvolvimento de dependência
química na vida adulta. Os dados mostram que pelo menos 8% dos
brasileiros relataram possuir alguém próximo que consumia substâncias
ilícitas dentro da sua residência, a maioria deles parentes próximos
(3,7%).
Porém, entre todos os tipos de violência precoce, o abuso sexual é o
que leva a consequências mais drásticas a longo prazo. O levantamento
mostra que mais de 5% da população adulta já foi vítima de abuso sexual,
representando 5,5 milhões de brasileiros. O principal alvo são as
meninas (7%), enquanto os meninos representam 3,4% das vítimas,
prevalência acima das estimativas de estudos anteriores, o que a
pesquisa atribui ao fato das entrevistas terem sido realizadas de forma
fechada e com sigilo absoluto.
Exploração sexual em crianças e adolescentes continua sendo um grave
problema social. O levantamento identificou que mais de 1% dos
entrevistados já recebeu dinheiro para fazer sexo antes dos 18 anos de
idade, representando mais de um milhão de brasileiros. Porém, ao
contrário do esperado, a prevalência da exploração sexual precoce entre
meninos (1,6%) é maior do que entre as meninas (1%).
Impactos
Mas afinal, quais os impactos da violência no consumo de substância na
vida adulta? De acordo com o estudo, essa violência pode levar a um
aumento significativo da predisposição à depressão e, principalmente, ao
uso de substância psicotrópicas na vida adulta. Isso porque as taxas de
prevalência de consumo de substâncias entre as vítimas de violência
precoce são significativamente superiores às da população geral.
Observa-se que mais da metade dos usuários de cocaína e mais de um terço
dos usuários de maconha foram vítimas de abuso infantil.
A pesquisa divulgada, ontem, pela Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), ouviu 4.607 pessoas de 14 anos ou mais em 149 municípios. No
Nordeste, 1.262 pessoas foram entrevistadas, sendo 216 no Ceará.
Já os dados do Disque 100, da Presidência da República - um dos
instrumentos de denúncia mais difundidos no País -, recebeu, no ano
passado, 6.109 denúncias de violência do Ceará, o que dá uma média de 17
denúncias registradas por dia. Elas envolvem 12.698 violações, uma vez
que cada caso pode envolver mais de um tipo de violação.
Liderando o ranking, com 4.568 denúncias, está negligência familiar
(36%), seguida de violência psicológica 3.201 (25%), violência física
2.867 (22,5%), violência sexual 1.363 (10,7%)e exploração do trabalho
infantil 476 (3,7%).
Francielze Lavor, presidente da Sociedade Cearense de Pediatria,
explica que a violência na infância e na juventude se manifesta de cinco
formas: física, psicológica, negligência, abandono e abuso sexual.
"Elas vão desde a família que negligencia o cuidado, como levar a
criança à escola ou ao médico quando ela está doente, até casos extremos
que constituem o abandono", frisa.
Entre as consequências que essa criança poderá apresentar, cita
comportamento violento, dificuldades no aprendizado e de se
sociabilizar. "Não é só a sequela psicológica, pode envolver um retardo
no desenvolvimento psicomotor", diz a especialista.
Para dar suporte às crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade em Fortaleza, existem seis Conselhos Tutelares e mais
seis Centros de Referência Especializado da Assistência Social (Creas),
sendo um para cada Secretaria Regional. O Diário do Nordeste entrou em
contato com a Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos de Fortaleza
(SCDH), através da assessoria de comunicação, mas até o fechamento da
edição não recebeu retorno esclarecendo os canais de denúncia que o
Município dispõe para casos de violência contra crianças e adolescentes.
Luana Lima
Repórter
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